VIVER A PÁSCOA HOJE
Frei Betto
A Páscoa, na sua origem hebraica, é
um fato político: sob o reinado do faraó Ramsés II, em 1250 a.C. Liderados por
Moisés, os hebreus se libertaram da escravidão no Egito. Basta isso para que,
hoje, ela seja comemorada como incentivo a combater toda forma de opressão,
preconceito e discriminação.
Nascemos do mesmo modo; ao morres,
teremos todos o mesmo destino; no
entento, as desigualdades imperam em nosso modo de viver.
A Páscoa, para os cristãos, além do
ato político encabeçado por Moisés, é sobretudo a proclamação de que Jesus,
assassinado em Jerusalém, venceu a morte e manifestou a sua natureza também
divina.
Assassinaram Jesus porque ele queria
o óbvio, o que ainda hoje muitos fingem não enxergar: vida em plenitude para
todos. Não é preciso saber economia para
se dar conta de que há suficiente riqueza no mundo para assegurar vida digna a
seus 7 bilhões de habitantes.
A renda per capita mundial é, hoje, de
USS 9.390. Porém, basta olhar em volta para ver nossos semelhantes jogados nas
calçadas, catando lixo para se alimentar, morando em favelas, submetidos ao
trabalho escravo. Basta abrir o jornal para ler que dois terços da humanidade
ainda vivem abaixo da linha da pobreza. E 20% da população mundial concentra
84% da riqueza global.
Páscoa significa passagem, travessia. Domingo, nós, cristãos, iremos à igreja
celebrar esta que a mais importante festa litúrgica. E o que muda em nossas
vidas? Vamos sair do nosso comodismo para
ajudar a acabar com a opressão? Vamos deslocar a nossa ótica do lugar do
opressor para encarar a realidade pelos olhos do oprimido, como sugeria Paulo
Freire?
É fácil ter religião e professar a fé
em Jesus. O difícil é ter espiritualidade e a fé de Jesus.
Feliz Páscoa, queridos(as)
leitores(as)!