sexta-feira, 26 de julho de 2013

Papa Francisco: 'Você é o que lava as mãos?'




O papa Francisco convoca a juventude a confrontar o "egoísmo" da classe política e sua "corrupção", a fome, o racismo, a perseguição ideológica, violência e drogas. Marcando a Igreja com seu estilo, o papa Francisco deu à via-crúcis desta sexta-feira, 26,na Jornada Mundial da Juventude,  um sentido político e social. Dos jovens, cobrou uma atitude de "coragem" para mudar o mundo e, com a cruz, desafiar os problemas vividos pela sociedade. "Você é o que lava as mãos e vira para o outro lado?", questionou o papa à multidão.
Deixando claro que seu pontificado dará uma dimensão social ao evangelho, o papa foi além e cobrou da juventude internacional uma atitude para confrontar as mazelas do mundo. "Você é o que lava as mãos, se faz de distraído e vira ao outro lado?", questionou o papa à multidão, comparando a atitude a de Pilatos, que lavou as mãos diante da crucificação de Jesus. "Jesus olha agora e te diz: quer ajudar a levar a cruz?".
O papa Francisco optou por transformar a cruz e as imagens das estações do sofrimento de Jesus em alusões aos desafios sociais e políticos. "Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos", declarou o papa.
"Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, como os 242 que morreram em Santa Maria. Rezemos por eles. Ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga", disse o papa, em mais uma referência nesta viagem ao problema da dependência química.
Outro alerta do papa Francisco é para o desafio da fome, numa crítica explícita ao desperdício de setores inteiros da sociedade, enquanto milhões não tem o que comer. "Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida".
No discurso, falou pela primeira vez do racismo presente na sociedade, além dos problemas de intolerância religiosa. "Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias ou pela cor da pele", apontou.
O tradicional ato de devoção da Igreja não escapou ao estilo que o papa começa a implementar, transformando a Igreja em um centro do debate inclusive político. "Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho", declarou o papa.
Para o pontífice, os jovens não devem temer e precisam sair a enfrentar esses obstáculos. "Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida", disse Francisco.
Há dois dias, o papa já havia incentivado os jovens brasileiros a lutar contra a corrupção. Agora, usa o símbolo da cruz para insistir que não podem se dar por derrotados. "Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida", declarou.
O papa ainda fez questão de lembrar aos jovens brasileiros que a luta, na forma de cruz, esteve sempre presente na história do País. "O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa Cruz". A Cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro". Fonte: MSN