Henrique Eduardo Alves
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Fonte do texto: Ig
Na lógica dos jogos do poder, Henrique Eduardo Alves é mais que um rei. É um coringa. Uma carta dessas é capaz de virar a mesa
Na lógica dos jogos do poder, Henrique Eduardo Alves é mais que um rei. É um coringa. Uma carta dessas é capaz de virar a mesa
Ao ocupar o cargo de presidente da República, no dia 8
de junho, em rápida cerimônia na Base Aérea de Brasília, o deputado federal e
presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, quase se tornou o
segundo potiguar a chegar ao posto mais importante do País (antes dele apenas
Café Filho, que herdou a Presidência após o suicídio de Getúlio Vargas). Quase,
porque na verdade, Henrique Alves é carioca, a despeito de toda uma vida pessoal
e política ligadas ao Rio Grande do Norte. Em 1948, quando ele e sua irmã gêmea
e ex-deputada Ana Catarina nasceram, sua família estava no Rio de Janeiro, pois
o pai Aluisio Alves defendia o mandato de deputado federal.
Na posse, Alves fez questão de estar ao lado da noiva, a bonita advogada, jornalista e blogueira Laurita Arruda. A presidente Dilma Rousseff chegou de helicóptero, entregou o cargo e seguiu direto para Portugal. Henrique Alves, como presidente da Câmara, é o terceiro na sucessão presidencial. Com a viagem de Dilma e a visita do vice-presidente Michel Temer a Israel, saltou para o primeiro lugar. Em seu dia de estreia como presidente em exercício do Brasil, preferiu não se sentar na cadeira mandatária. Recebeu os convidados para audiências no sofá. Antigo frequentador do gabinete presidencial, notou uma diferença: “A almofada do sofá parece mais macia”.
No mesmo dia, ao atender uma ligação de Michel Temer, em trânsito por Paris, disse, antes de ouvir qualquer coisa: “Muito obrigado pelo telefonema, Temer, mas não me peça cargos para o PMDB”.
“É um assunto privado, particular, um dinheiro que era meu, tenho como provar. Fiz um empréstimo de R$ 100 mil. Dinheiro meu, que estava sendo conduzido”
Henrique Eduardo Alves é desse jeito – bem-humorado e agradavelmente ardiloso – e assim foi construindo uma carreira vitoriosa. Em mais de 40 anos de política, foram 11 mandatos consecutivos na Câmara, o que o faz empatar com o Senhor Diretas, como ficou conhecido o deputado Ulysses Guimarães. Na primeira eleição, era um guri de 21 anos que se candidatava pelo oposicionista MDB, em tempos de ditadura. Um ano antes, em 1969, seu pai Aluisio Alves, então governador do Rio Grande do Norte, fora cassado pelo governo militar. A eleição do jovem herdeiro de uma tradição política no Estado – só desafiada pelo clã rival dos Maia – repetiu-se em 1974 e 1978, em uma prova de que a política seria o caminho natural para o jovem advogado, conhecido pela população daquele estado como Henriquinho.
Henriquinho é, além do diminutivo carinhoso, um trocadilho referente a seu patrimônio, que inclui o Sistema Cabugi de Comunicação, com a TV Cabugi, afiliada da Rede Globo, a Rádio Globo Natal, a Rádio Difusora de Mossoró e o jornal “Tribuna do Norte”. Em 2002, ao ser cogitado para vice de José Serra na eleição presidencial, sua vida financeira foi devassada por denúncias alimentadas pela separação de Mônica Infante de Azambuja, que conseguiu judicialmente informações a respeito das contas e de cartões de créditos do ex-marido. Entre outras, que ele teria movimentado mais de US$ 15 milhões nos paraísos fiscais de Nassau, no Caribe, na ilha Jersey, no Canal da Mancha – conhecido local de veraneio da fortuna de Paulo Maluf – e em Genebra, onde o banco suíço Union Bancaire Privée coordenaria todas as operações bancárias do deputado.
Com o tempo as denúncias se dissiparam, enquanto outras acusações com menos dígitos voltaram a assolar o político. Em julho passado, uma misteriosa mala com R$ 100 mil reais que pertenciam a Alves foi roubada em Brasília. Segundo ele, o dinheiro era um empréstimo feito ao Banco do Brasil para amortizar a dívida da compra de um apartamento. “É um assunto privado, particular, um dinheiro que era meu, tenho como provar. Fiz um empréstimo de R$ 100 mil. Dinheiro meu, que estava sendo conduzido”, comentou. E, questionado por que não fez uma simples transferência eletrônica do valor, encerrou o assunto dizendo que “era meu direito”.
Outra acusação que respingou no deputado tratava do uso indevido de aeronaves na FAB, quando ele voou para o Rio de Janeiro acompanhado de amigos, para assistir à final da Copa das Confederações, também em julho passado. “Veja bem. Eu fui ao Rio de Janeiro porque eu tinha uma agenda (...) com o prefeito Eduardo Paes. O avião me levou para esse compromisso. Aí qual foi, talvez, tenha sido o equívoco? (...) Como havia disponibilidade de lugares, aí levei pessoas que me acompanharam. Como aí eu identifiquei que isso talvez possa ser um equívoco a ser discutido, ainda. Preventivamente eu resolvi pagar o valor das passagens comerciais das pessoas que foram e que voltaram comigo”, defendeu-se.
Ainda em julho a trombeta dos ataques contra o deputado voltou a soar por conta de um jantar que ofereceu aos colegas de partido que saiu por R$ 28,4 mil desembolsados pela própria Câmara. A assessoria da Presidência da Câmara considerou o gasto “baixo” e “esporádico”.
A posição privilegiada da presidência da Câmara parece ter atiçado os ânimos de opositores ao político. Mais ainda, a luta intestina pelo poder revela os arranjos e estratégias das forças políticas brasileiras a um ano das eleições presidenciais e dos governos dos estados. No centro do poder, Henrique Alves tem papel decisivo nessas questões, basta acompanhar a discussão em torno do orçamento impositivo, sedutora proposta de emenda constitucional que o deputado defende. Ela torna obrigatória a execução financeira das emendas que deputados federais e senadores incluem todos os anos no Orçamento da União. E que, costumeiramente, destinam recursos a seus redutos eleitorais. O que significa reduzir o poder de fogo da caneta do Planalto e ampliar o controle de verbas pelos deputados e senadores.
Tamanha influência torna Henrique Alves um homem decisivo nesse momento da história nacional. É o ápice da carreira de um político com fôlego e ambição para tornar-se titular das almofadas do Planalto. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, pertence a um poderoso clã. Seu pai, além de deputado federal, foi governador do Rio Grande do Norte e ainda pontificou como Ministro da Administração de José Sarney e da Integração Regional de Itamar Franco. O Ministro da Previdência Garibaldi Alves Filho e o ex-senador e ex-prefeito de Natal Agnelo Alves são seus tios. Por isso mesmo, é considerado o “bacurau-mor” do Estado, como chamam os pemedebistas no Rio Grande do Norte.
Articulado, experiente e com uma mentalidade terrivelmente analítica, Henrique Alves pode ser considerado tudo, menos ingênuo. Sua atuação política é implacável e as quase cinco décadas sobre os tapetes púrpuras da Câmara lhe ensinaram o caminho de cada gabinete e de cada ambição. Em um dia – na verdade, 41 horas consecutivas – pode defender a Medida Provisória dos Portos e, diretamente, a presidente da República. Em outro, bebe um blended com o ainda incipiente candidato à presidência Aécio Neves e se compõe para as próximas eleições presidenciais. Na lógica dos jogos do poder, Henrique Eduardo Alves é mais que um rei. É um coringa. Uma carta dessas é capaz de virar a mesa.
Na posse, Alves fez questão de estar ao lado da noiva, a bonita advogada, jornalista e blogueira Laurita Arruda. A presidente Dilma Rousseff chegou de helicóptero, entregou o cargo e seguiu direto para Portugal. Henrique Alves, como presidente da Câmara, é o terceiro na sucessão presidencial. Com a viagem de Dilma e a visita do vice-presidente Michel Temer a Israel, saltou para o primeiro lugar. Em seu dia de estreia como presidente em exercício do Brasil, preferiu não se sentar na cadeira mandatária. Recebeu os convidados para audiências no sofá. Antigo frequentador do gabinete presidencial, notou uma diferença: “A almofada do sofá parece mais macia”.
No mesmo dia, ao atender uma ligação de Michel Temer, em trânsito por Paris, disse, antes de ouvir qualquer coisa: “Muito obrigado pelo telefonema, Temer, mas não me peça cargos para o PMDB”.
“É um assunto privado, particular, um dinheiro que era meu, tenho como provar. Fiz um empréstimo de R$ 100 mil. Dinheiro meu, que estava sendo conduzido”
Henrique Eduardo Alves é desse jeito – bem-humorado e agradavelmente ardiloso – e assim foi construindo uma carreira vitoriosa. Em mais de 40 anos de política, foram 11 mandatos consecutivos na Câmara, o que o faz empatar com o Senhor Diretas, como ficou conhecido o deputado Ulysses Guimarães. Na primeira eleição, era um guri de 21 anos que se candidatava pelo oposicionista MDB, em tempos de ditadura. Um ano antes, em 1969, seu pai Aluisio Alves, então governador do Rio Grande do Norte, fora cassado pelo governo militar. A eleição do jovem herdeiro de uma tradição política no Estado – só desafiada pelo clã rival dos Maia – repetiu-se em 1974 e 1978, em uma prova de que a política seria o caminho natural para o jovem advogado, conhecido pela população daquele estado como Henriquinho.
Henriquinho é, além do diminutivo carinhoso, um trocadilho referente a seu patrimônio, que inclui o Sistema Cabugi de Comunicação, com a TV Cabugi, afiliada da Rede Globo, a Rádio Globo Natal, a Rádio Difusora de Mossoró e o jornal “Tribuna do Norte”. Em 2002, ao ser cogitado para vice de José Serra na eleição presidencial, sua vida financeira foi devassada por denúncias alimentadas pela separação de Mônica Infante de Azambuja, que conseguiu judicialmente informações a respeito das contas e de cartões de créditos do ex-marido. Entre outras, que ele teria movimentado mais de US$ 15 milhões nos paraísos fiscais de Nassau, no Caribe, na ilha Jersey, no Canal da Mancha – conhecido local de veraneio da fortuna de Paulo Maluf – e em Genebra, onde o banco suíço Union Bancaire Privée coordenaria todas as operações bancárias do deputado.
Com o tempo as denúncias se dissiparam, enquanto outras acusações com menos dígitos voltaram a assolar o político. Em julho passado, uma misteriosa mala com R$ 100 mil reais que pertenciam a Alves foi roubada em Brasília. Segundo ele, o dinheiro era um empréstimo feito ao Banco do Brasil para amortizar a dívida da compra de um apartamento. “É um assunto privado, particular, um dinheiro que era meu, tenho como provar. Fiz um empréstimo de R$ 100 mil. Dinheiro meu, que estava sendo conduzido”, comentou. E, questionado por que não fez uma simples transferência eletrônica do valor, encerrou o assunto dizendo que “era meu direito”.
Outra acusação que respingou no deputado tratava do uso indevido de aeronaves na FAB, quando ele voou para o Rio de Janeiro acompanhado de amigos, para assistir à final da Copa das Confederações, também em julho passado. “Veja bem. Eu fui ao Rio de Janeiro porque eu tinha uma agenda (...) com o prefeito Eduardo Paes. O avião me levou para esse compromisso. Aí qual foi, talvez, tenha sido o equívoco? (...) Como havia disponibilidade de lugares, aí levei pessoas que me acompanharam. Como aí eu identifiquei que isso talvez possa ser um equívoco a ser discutido, ainda. Preventivamente eu resolvi pagar o valor das passagens comerciais das pessoas que foram e que voltaram comigo”, defendeu-se.
Ainda em julho a trombeta dos ataques contra o deputado voltou a soar por conta de um jantar que ofereceu aos colegas de partido que saiu por R$ 28,4 mil desembolsados pela própria Câmara. A assessoria da Presidência da Câmara considerou o gasto “baixo” e “esporádico”.
A posição privilegiada da presidência da Câmara parece ter atiçado os ânimos de opositores ao político. Mais ainda, a luta intestina pelo poder revela os arranjos e estratégias das forças políticas brasileiras a um ano das eleições presidenciais e dos governos dos estados. No centro do poder, Henrique Alves tem papel decisivo nessas questões, basta acompanhar a discussão em torno do orçamento impositivo, sedutora proposta de emenda constitucional que o deputado defende. Ela torna obrigatória a execução financeira das emendas que deputados federais e senadores incluem todos os anos no Orçamento da União. E que, costumeiramente, destinam recursos a seus redutos eleitorais. O que significa reduzir o poder de fogo da caneta do Planalto e ampliar o controle de verbas pelos deputados e senadores.
Tamanha influência torna Henrique Alves um homem decisivo nesse momento da história nacional. É o ápice da carreira de um político com fôlego e ambição para tornar-se titular das almofadas do Planalto. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, pertence a um poderoso clã. Seu pai, além de deputado federal, foi governador do Rio Grande do Norte e ainda pontificou como Ministro da Administração de José Sarney e da Integração Regional de Itamar Franco. O Ministro da Previdência Garibaldi Alves Filho e o ex-senador e ex-prefeito de Natal Agnelo Alves são seus tios. Por isso mesmo, é considerado o “bacurau-mor” do Estado, como chamam os pemedebistas no Rio Grande do Norte.
Articulado, experiente e com uma mentalidade terrivelmente analítica, Henrique Alves pode ser considerado tudo, menos ingênuo. Sua atuação política é implacável e as quase cinco décadas sobre os tapetes púrpuras da Câmara lhe ensinaram o caminho de cada gabinete e de cada ambição. Em um dia – na verdade, 41 horas consecutivas – pode defender a Medida Provisória dos Portos e, diretamente, a presidente da República. Em outro, bebe um blended com o ainda incipiente candidato à presidência Aécio Neves e se compõe para as próximas eleições presidenciais. Na lógica dos jogos do poder, Henrique Eduardo Alves é mais que um rei. É um coringa. Uma carta dessas é capaz de virar a mesa.
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