sábado, 9 de fevereiro de 2013

A SAFRA DA CASTANHA DE CAJU EM 2012 FOI REDUZIDA EM 70%



Produção de castanha despenca. Com esse título a Tribuna do Norte, publicou matéria dos reporteres Hudson Helder e Andrielle Mendes sobre a redução da produção de castanha do estado, em 2012. Veja a reportagem na íntgegra:

 
Produção de castanha despenca
Hudson Helder - Chefe de Reportagem
 
A praga da mosca branca e a seca podem ter reduzido a produção potiguar de castanha de caju em até 70% no ano passado. A crise na produção atingiu a todo o Nordeste e afeta diretamente a indústria de beneficiamento. A Iracema, maior empresa beneficiadora dessa matéria-prima no Rio Grande do Norte, instalada no município de São Paulo do Potengi, passou a importar castanhas de seis países africanos. A redução na oferta a partir dos três maiores produtores - Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte - obrigou a empresa a conceder férias coletivas de três a quatro meses aos funcionários da unidade de beneficiamento instalada em São Paulo do Potengi.
 
Adriano AbreuAmêndoas de castanha no mercado popular em Natal: praga da mosca branca e seca afetaram a produção de caju no NordesteAmêndoas de castanha no mercado popular em Natal: praga da mosca branca e seca afetaram a produção de caju no Nordeste
A unidade de produção precisou ser adequada à crise pela qual passa o setor primário do agronegócio da castanha de caju. A produção e oferta do produto, no ano passado e início deste ano, não alcançou 40% da média anual no Rio Grande do Norte, de forma que a empresa antecipou a importação do produto nos cultivares africanos para não ter que parar a fábrica e dispensar funcionários.
Inicialmente a empresa, que tem outras três unidades de beneficiamento no estado do Ceará, havia projetado a importação de 60 mil toneladas de castanha, mas com o agravamento da crise nas áreas de cultivo do Nordeste brasileiro modificou essa projeção para compra de 100 mil toneladas aos países da África.
"Não está descartada a necessidade de ampliarmos essa compra. A capacidade instalada da fábrica é para beneficiamento de 400 mil toneladas/ano, e a produção brasileira é de 320 mil toneladas. Ou seja, mesmo que estivéssemos com a produção regular no campo, haveria eventual necessidade de importação do produto", disse o engenheiro agrônomo e responsável pelo setor de compra de matéria-prima da Iracema, Orion Gomes.
Em 2012, a empresa praticamente não recebeu matéria-prima oriunda dos produtores potiguares. Essa produção, afetada especialmente pela estiagem e a praga da mosca-branca, ficou mesmo com os pequenos beneficiadores que atendem basicamente a demanda da região onde estão localizados.
A crise no setor primário da cajucultura, segundo o engenheiro agrônomo, transcende as questões climáticas ou a influência das pragas nos cultivares do Rio Grande do Norte. "Há um problema sério, que é a falta de continuidade de uma política pública voltada ao setor produtivo. Os últimos gestores não têm tratado a cajucultura considerando a importância dela para a economia do Estado. O Rio Grande do Norte era o principal produtor; hoje está em terceiro, perdendo espaço já para o estado do Piauí", alertou. "Mas é uma crítica construtiva, para que depois não se perguntem porque acabou a atividade".
À medida que importa a matéria-prima, o Rio Grande do Norte perde também noutro flanco da geração de receita porque a operação é feita via Porto do Mucuripe, em Fortaleza (CE). "O preço da castanha importada é competitivo. Empresário algum faria uma operação dessas se fosse para operar no vermelho", ressalta o engenheiro da Iracema, Orion Gomes.A Iracema emprega cerca de 400 pessoas somente na unidade de beneficiamento de São Paulo do Potengi, um município com população de aproximadamente 16 mil pessoas. As quatro unidades, juntas, empregam hoje 2.200 trabalhadores.

Problemas afetam toda a cadeia produtiva
Andrielle Mendes - Repórter
A Iracema Indústria e Comércio de Castanhas de Caju não é a única empresa afetada pela escassez de matéria-prima no Rio Grande do Norte. Segundo Luiz Gonzaga Costa, analista de Mercado de Produtos Agrícolas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no RN, a queda na produção de castanha, intensificada com o agravamento da seca, atinge toda a cadeia produtiva. 
Segundo o analista, o agravamento da seca teria levado várias fábricas a fecharem as portas no estado. "Quem não fechou, reduziu a produção, demitiu funcionários e está com até 50% de sua capacidade ociosa", afirma. A Secretaria Estadual de Agricultura e Pesca estima que cerca de 150 mil pessoas estejam sendo afetadas direta ou indiretamente com a queda na produção de castanha no estado. A estimativa, segundo José Simplício, secretário interino, não inclui a mão de obra empregada nas fábricas. 
De acordo com levantamento prévio da Secretaria, a produção de castanha de caju pode ter caído até 70% em 2012 só no Rio Grande do Norte. O percentual é menor apenas que o registrado em 1993, quando a produção caiu 80% em função da seca. Os prognósticos, afirma Luiz Gonzaga, não são animadores. O RN, que já chegou a produzir 50 mil toneladas de castanha de caju por ano, não ultrapassou a marca das 15 mil toneladas no ano passado. A produção pode cair ainda mais, se não chover, alerta Gonzaga. 
Para o analista, a política de incentivo à cajucultura no RN não tem atingido os resultados esperados. "É preciso mais apoio", cobra. A Secretaria de Agricultura reconhece o problema e afirma que vai reforçar o programa de recuperação de pomares, agora abrigado dentro do programa RN Sustentável. Segundo Simplício, o governo investirá entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões na cadeia produtiva do caju. O dinheiro será utilizado, entre outras coisas, para preparar o solo, distribuir mudas, adubar pomares e renovar a copa dos cajueiros. Os projetos, segundo ele, começam a ser executados ainda este ano. O secretário reconhece  que a distribuição de mudas iniciada anos atrás foi ineficiente e confessa que os recursos destinados ao setor nos últimos anos foram 'limitados'. 
Enquanto as ações governamentais não saem do papel, os empresários encontram na importação uma alternativa para continuar produzindo. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), levantados por Luiz Gonzaga, o Brasil importou 51,5 mil toneladas de castanha de caju em 2012, o maior volume já importado pelo país. Deste total, 95% foi para o Ceará, principal beneficiador de castanha no Brasil.  Das 14 grandes indústrias de beneficiamento de castanha de caju, 11 estão lá. 
O RN ficou com 3,1 mil toneladas do que foi importado pelo país. As três indústrias localizadas no estado, observa José Simplício, tem capacidade para beneficiar até 70 mil toneladas por ano. "Não tem outra saída. O empresário tem que importar". 
Tanto Luiz Gonzaga, da Conab, quanto José Simplício, da Agricultura, discordam dos números apresentados pela Iracema Indústria e Comércio. Para Luiz Gonzaga, a fábrica, sozinha, não seria capaz de importar o dobro do que o país importou no ano passado. Simplício acrescenta que a capacidade de beneficiamento das indústrias de mesmo porte não ultrapassa 20 mil toneladas ano.
 
INCÊNDIO
Da TN Online
Um incêndio por volta de meio-dia de ontem atingiu a fábrica de castanhas no município de São Paulo do Potengi. De acordo com o tenente Cristiano Couceiro, do Corpo de Bombeiros, a prefeitura da cidade auxiliou os trabalhos da corporação com um carro pipa para controlar o fogo. Segundo a tenente Denise, a causa do incêndio ainda está sendo averiguada. O que se sabe é que teve a ver com a casca da castanha, que, quando madura, apresenta-se dura e com um óleo viscoso, cáustico e inflamável. O corpo de bombeiros confirmou que o incêndio foi de média-proporção, atingindo extensa área na localidade. Não houve registro de vítimas. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com a empresa na tarde de ontem
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Fonte: Tribuna do Norte