sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A DEVOÇÃO E A FESTA DE NOSSA SENHORA DA SAÚDE

 
Estamos nos aproximando da Festa de Nossa Senhora da Saúde, Padroeira da cidade Boa Saúde/RN, um evento mais que centenário e de grande importância sócioreligiosa para a comunidade e para a região. A devoção a Nossa Senhora da Saúde surgiu no México, em 1538.  Em Boa Saúde essa devoção tem mais de 136 anos. É importante que saibamos um pouco mais sobre origem da imagem Nossa Senhora da Saúde e outros aspectos relacionados com a construção da sua capela e a “Festa de 2 de Fevereiro” ou Festa da Padroeira.


Onde e como surgiu a devoção a Nossa Senhora da Saúde
 
Na América Latina, a devoção a Nossa Senhora da Saúde começou no México. Em 1538, os índios Patzcuaro esculpiram sua primeira imagem. Em Portugal teve início em Lisboa, em 1569, por ocasião de uma grande peste. No Brasil essa devoção foi trazida pelos portugueses para os estados da Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais e, depois se expandiu para todo o Brasil. No Rio Grande do Norte a devoção a Nossa Senhora da Saúde, na cidade de Boa Saúde, começou com a construção da capela e a vinda da imagem da Europa, mais provavelmente de Portugal, por iniciativa de Luiz Francisco da Costa, conhecido como Luiz Cachoeira.  São muitos os devotos de Nossa Senhora da Saúde, que durante o ano, visitam sua capela para obter ou agradecer uma graça por sua intercessão. Mas, nos dias 31 de janeiro, 01 e 02 de fevereiro é que mais de 10 mil pessoas, a cada noite, participam da tradicional Festa da Padroeira. A consolidação dessa devoção a Nossa Senhora da Saúde, segundo a tradição, completa mais de 133 anos em fevereiro de 2012, constituindo-se num patrimônio imaterial da cidade de Boa Saúde.
Pesquisa e texto de José Alaí de Souza

A Imagem de Nossa Senhora da Saúde

“A imagem de Nossa Senhora da Saúde, Luiz Cachoeira teria mandado buscar na Europa, o que, pelas características da santa, é mais provável, contrariando a versão de que a mesma teria vindo do Juazeiro, trazida por um grupo de romeiros. Por outro lado, algumas evidências contribuem para a aceitação da hipótese de que sua origem é européia: a existência do povoado com a denominação de Boa Saúde, em 1878, conforme documento do Cartório de São José de Mipibu, e a ocorrência do milagre da beata Maria de Araújo, onze anos depois, em 1899, quando a partir daí foi que se iniciou a devoção ao Padre Cícero e começaram as romarias ao Juazeiro.”
“Segundo o professor da UFRN. Senhor Antônio Marques de Carvalho Júnior, estudioso e expert em arte sacra e antiguidades, a imagem de Nossa Senhora da Saúde, ‘Do ponto de vista do estilo pode-se dizer que se trata de uma escultura de influência barroca, mas já tendendo para o neo-clássico, caracterizado pelo panejamento sóbrio, com pouco movimento. O pedestal ou base é extremamente simples, sendo pois mais um forte indicador de uma escultura saída de uma manufatura européia do século XIX,entre 1800 e 1860.’ Sobre a sua origem, ele tem a seguinte opinião: ‘A hipótese de sua origem ser a cidade do Juazeiro do Norte não tem a menor possibilidade pois trata-se de uma escultura de fatura erudita e não tem cunho popular.”
Fonte: BOA SAÚDE – Origem e História, dos autores
osé Alai de Souza e Maria de Deus Souza Araújo

Festa da Padroeira
 Podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que a Festa de Nossa Senhora da Saúde é a mais forte tradição sócioreligiosa da nossa terra reunindo milhares de pessoas dos municípios vizinhos, de outras regiões e de outros estados. Ela faz parte da nossa história e se constitui num patrimônio imaterial da cidade de Boa Saúde, no Rio Grande do Norte, e do nosso povo.
A “Festa de 2 de Fevereiro”, como também é conhecida, reúne o sagrado e o profano, a devoção e o prazer, o agradecimento e a esperança. A persistência secular e a capacidade de agregar novas características ao referido evento são responsáveis pela manutenção da tradição, apesar dos impactos recebidos da sociedade moderna.
A Festa de Nossa Senhora da Saúde em 2012 completa mais 134 anos, uma vez que o documento mais antigo que se conhece e faz referências ao nome de Boa Saúde, data de 22 de junho de 1878 (Fonte: Boa Saúde Origem e História, paginas 31 e 32).
Realizada no período de 24 de janeiro a 02 de fevereiro, a Festa de Nossa Senhora da Saúde conta com maior afluência de público no período de 31 de janeiro a 02 de fevereiro quando a cidade recebe maior número de devotos, pagadores de promessa e público em geral, principalmente, por ocasião procissão e a missa de enceramento.
Um evento do porte da Festa de Nossa Senhora da Saúde, além do aspecto religioso, tem um grande potencial em termos de gerar receita para a igreja e para os setores do comércio e de serviços. Por isso requer um maior entrosamento dos setores da Igreja e do Poder Público, bem como num planejamento levando em conta todos os seus aspectos e priorizando aspectos como: trânsito e estacionamento, segurança, sanitários públicos, localização adequada dos ambulantes, barracas e locais de realização de bailes e shows.
Texto de José Alai de Souza
Capela de Nossa Senhora da Saúde- Boa Saúde/RN
Segundo consta nas páginas 37 e 38 do livro Boa Saúde – Origem e História “Não se sabe, com exatidão a época da construção da primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde. O mais provável é que tenha ocorrido antes de 1878, quando documentos já  mencionados evidenciam a existência do povoado com o nome de Boa Saúde, que teria  começado a crescer a partir da referida construção e da devoção a Nossa Senhora da Saúde, após a propagação da cura a ela atribuída.
Edificada por iniciativa de Luiz Francisco da Costa, conhecido como Luiz Cachoeira, contando com o apoio das famílias residentes na localidade e com a colaboração dos demais Cachoeira, a referida capela teve como pedreiro o senhor Antônio Badamero Sacca. Segundo os moradores mais antigos, a madeira utilizada na sua cobertura foi retirada das proximidades da construção, que era do tipo duas águas, com uma única porta larga na frente. A imagem de Nossa Senhora da Saúde, Luiz Cachoeira teria mandado buscar em Roma, enquanto o sino, teria sido uma doação de Pedro Francisco da Costa, denominado de Pedro Cachoeira, sendo desconhecida a sua origem, sabendo-se, entretanto, que foi trazido de Macaíba, em lombo de burro.
A primeira capela, muitos anos depois, foi reformada e ampliada, como mostra a sua foto. Tinha uma fachada em estilo colonial e o seu interior era constituído pela nave-central separada da capela-mor por uma grande arcada. Nas laterais existiam corredores separados da parte central por arcadas menores. Possuía um único altar, formado por vários degraus e três nichos com as imagens de Nossa Senhora da Saúde, ao centro, ladeada por São Sebastião e Nossa Senhora da Apresentação.
Em frente à igreja, existia um cruzeiro de madeira com pedestal de alvenaria”.
No início da década de 1960, quando o vigário de Serra Caiada era o Padre Antônio Vilela Dantas, a igreja antiga foi demolida e no seu lugar foi erguida outra, com características arquitetônicas modernas e um altar de mármore que foi doado por Manoel Ribeiro de Andrade. Em seguida, na administração paroquial de Padre José Amorim foi construída uma torre e, na permanência de Padre José Manoel na Paróquia de Serra Caiada teve a fachada principal modificada e azulejada.
Atualmente (2011) a igreja passa pelas seguintes reformas na capela-mor: rebaixamento do teto e colocação de novas luminárias; ampliação da base do altar e colocação de nova mesa em granito; nicho para a padroeira; novo sacrário e reprodução da pintura de um Cristo do artista plástico Cláudio Pastro. O projeto da reforma é do Padre João Batista Chaves da Rocha, Capelão da Polícia Militar e Coordenador da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese de Natal.

Potencial de Boa Saúde/RN  X  O turismo religioso
 

O objetivo deste artigo é despertar a atenção dos poderes executivo e legislativo do município, órgãos públicos, igreja católica e outras entidades, forças produtivas e a população de Boa Saúde, para o potencial que a cidade possui em relação ao desenvolvimento de uma modalidade de turismo: o religioso. Modalidade diferente de todos os outros segmentos do mercado do turismo, pois tem como motivação fundamental a fé, estando, portanto ligado profundamente ao calendário religioso da localidade receptora do fluxo turístico.  A EMBRATUR definiu o turismo religioso como aquele motivado pela fé ou necessidade de cultura religiosa, seja através de visitações a igrejas e santuários, seja por peregrinação, romarias ou congressos eucarísticos.
Segundo a mesma entidade, o turismo cultural é aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e informações culturais, visando à visitação a monumentos históricos, obras de arte, relíquias, antiguidades, concertos, musicais, museus. Um, portanto está, de certo modo, muito associado ao outro.
Oturismo religioso, pouco difundido no Rio Grande do Norte, pode contribuir consideravelmente para transformar determinadas localidades, como Boa Saúde, num lugar privilegiado de evangelização, de celebração e de promoção humana, fortalecendo a prática da vivência cristã através dos diversos serviços, pastorais, associações e movimentos religiosos. Pode, ainda, proporcionar à comunidade: momentos fortes de animação e celebração para o povo em geral, além da festa da padroeira e outros eventos tradicionais, como ocorre, atualmente, em Santa Cruz, a partir da devoção a Santa Rita de Cáscia.
Boa Saúde possui um grande potencial para o turismo religioso, a começar pelo nome do povoado que teve origem na devoção a Nossa Senhora da Saúde, como mostra a sua memória histórica, através de mais de uma versão: Uma de  que  romeiros  teriam  trazido  a  imagem  de Nossa Senhora da Saúde, do Juazeiro e o povoado passou a chamar-se Boa Saúde. Outra, de que os Cachoeira teriam construído uma capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde, depois que uma pessoa da família ficou curada após banhar-se no rio onde existia muito muçambê. E, ainda a de que um viajante teria adoecido quando de passagem pela localidade e ao ficar curado teria exclamado: “este é um lugar abençoado, um lugar de muita saúde”.
A construção da capela de Nossa Senhora da Saúde não foi por acaso: teve como origem mais provável o fato de uma pessoa ter sido curada alcançando uma graça pela sua intercessão. E, deste fato, a repercussão maior foi o crescimento do povoado sob a devoção a Nossa Senhora da Saúde.
Outro aspecto que potencializa o turismo religioso em Boa Saúde é a magnitude da festa da padroeira, um dos maiores eventos sócioreligiosos do Agreste Potiguar e que agora em 2012 completa mais de 133 anos de tradição que, a cada ano, conta com o aumento o fluxo de devotos, pagadores de promessas, boasaudenses em visita a terra natal e  público em geral, estimado em mais de 10 mil pessoas por noite, durante 31 de janeiro e, 01 e 02 de fevereiro, todos os anos. Há de se considerar, ainda, que no Rio Grande do Norte a devoção a N. Sra. da Saúde tem como centro a cidade de Boa Saúde e, não se tem notícia que outro município do Nordeste  tenha como padroeira N. Sra. da Saúde.
Estudar estas potencialidades e elaborar uma proposta para a implantação do Turismo Religioso em Boa Saúde contribuirá para: 1) O fortalecimento da evangelização, da vivencia cristã e da promoção humana; 2) O fortalecimento da economia e dos aspectos sócioculturais, históricos e políticos.
Um projeto dessa natureza e magnitude requer o comprometimento, o empenho e a parceria do poder público (legislativo e executivo ), da igreja, das forças produtivas e da sociedade  como um todo.
Texto de José Alaí de Souza, publicado no Jornal da Cidadania de fevereiro/2009